Dificuldades ortográficas

A / HÁ (em função do espaço de tempo)

- A (preposição): “Ela voltará daqui a meia hora.” (tempo futuro)

- HÁ (verbo haver): “Ela saiu há dez minutos.” (tempo decorrido)


_ ABAIXO-ASSINADO / ABAIXO ASSINADO

O documento coletivo, de caráter reivindicatório, chama-se “abaixo-assinado” e deve ser escrito com hífen. O plural é “abaixo-assinados”.

Exemplo: Os empregados da empresa entregaram um abaixo-assinado,
reivindicando aumento de salário.

Escreve-se “abaixo assinado”, sem hífen, quando se faz referência a cada uma das pessoas que assinam o documento.

Exemplo: João da Silva, abaixo assinado, reconhece que…


_ ACATAR / ACOLHER

- Acatar: obedecer;

Exemplo: Os empregados acataram a ordem do chefe.

- Acolher: aceitar, receber.

Exemplo: O juiz não acolheu a nossa ação.


_ AO AGUARDO DE ou NO AGUARDO DE?

Em verdade, as pessoas ficam “à espera”, e não “na espera” de alguém ou de alguma coisa. Assim, o correto é dizer que “alguém está ao aguardo de…”


_ A CERCA / ACERCA / HÁ CERCA

- A CERCA: significa “a uma distância de”.

Exemplo: Este restaurante fica a cerca de 20km daqui.

- ACERCA (locução prepositiva): igual a “sobre, a respeito de”.

Exemplo: Ele falou na reunião acerca de informática.

- Há CERCA DE: equivalente a “existe, ou faz aproximadamente”.

Exemplos:

Há cerca de cem candidatos para cada vaga neste concurso.
Não vejo aquele professor há cerca de dez anos.

Observação: A expressão “cerca de” quando indicar uma quantidade aproximada, deve ser acompanhada de um número arredondado, nunca de um número preciso. Faz sentido dizer “Cerca de 300 (ou qualquer número redondo) pessoas estavam na conferência”. Quando se sabe o número exato, dispensa-se o “cerca de”: “Na conferência havia 321 pessoas.”


_ À CUSTA DE / AS CUSTAS DE

- À CUSTA: no singular, significa “por meio de”, “na dependência de”.

Exemplos:

Ana já tem mais de trinta anos e ainda vive à custa do pai.
Antônio conseguiu sua fortuna à custa de muito trabalho.

- AS CUSTAS: no plural, tem sentido jurídico específico, significando “despesas feitas com um processo criminal ou cível”.

Exemplo: Pedro foi obrigado a pagar as custas do processo de seu divórcio.


_ ADIAMENTO

Adia-se somente eventos. Datas são trocadas.

Exemplos:

A festa foi adiada para domingo (e não a data da festa);
A data da reunião passou de 15 para 18 de julho (e não a reunião).

Observação: Já PRAZOS podem ser ampliados ou encurtados, nunca adiados.


_ ADJETIVOS PÁTRIOS E GENTÍLICOS

Muitos gramáticos chamam os adjetivos que nomeiam o local de nascimento das pessoas de adjetivos pátrios ou gentílicos. No entanto, existe diferença de significado entre os termos:

- Pátrio: refere-se a cidades, estados, países e continentes;

- Gentílico: refere-se a raças e povos.

Exemplos:

Israelense = adjetivo pátrio, referente a Israel;
Israelita = adjetivo gentílico, referente ao povo de Israel.


_ UM AGRAVANTE ou UMA AGRAVANTE?

A palavra “agravante”, como substantivo, é do gênero feminino.

Exemplo: O fato de João dirigir alcoolizado é uma agravante no caso de um acidente.

O mesmo acontece com a palavra “atenuante”.

Exemplo: O advogado alegou a existência de algumas atenuantes, para justificar o pedido de redução de pena de seu cliente.


_ AO ENCONTRO DE / DE ENCONTRO A

- AO ENCONTRO DE: significa “a favor de, para junto de”.

Exemplos:

Esta sua decisão veio ao encontro das minhas pretensões.
Ana foi toda feliz ao encontro do namorado.

- DE ENCONTRO A: equivalente a “contra, idéia de choque, de oposição”.

Exemplos:

Naquela questão, as idéias do PT vieram de encontro às do PSDB.
O carro foi de encontro ao poste.

No antológico “Samba da bênção”, Vinícius dizia: “A vida é a arte do encontro, embora haja muito desencontro pela vida.” Tinha razão o poeta. Quando você quer uma coisa e ela acontece, ela vem ao encontro dos seus interesses, e não de encontro. (P.C.N.)


_ A FIM / AFIM

- A FIM: igual a “finalidade”.

Exemplo: Ari estava a fim daquela garota.

- AFIM: equivalente a “semelhante”.

Exemplo: Meu gosto não é afim ao seu em matéria de comida.


_ AO INVÉS DE / EM VEZ DE

- AO INVÉS DE: significa “ao contrário de”.

Exemplos:

Maura, ao invés de Alice, resolveu se dedicar à música. (opções de estudo contrárias)

Entrou à direita ao invés de entrar à esquerda. (Direita e esquerda se opõem)


- EM VEZ DE: igual a “em lugar de”.

Exemplos:

Em vez de Pedro, Paulo foi o orador da turma. (Um tomou o lugar do outro)

João foi à praia em vez de ir ao jogo.” (Ir à praia e ir ao jogo não são coisas opostas, e sim lugares diferentes).


_ ALEIJADO ou ALEJADO?

Deve-se dizer e escrever “aleijado”.


_ AMAZONA ou CAVALEIRA?

De fato as gramáticas costumam trazer “amazona” como feminino de “cavaleiro”, mas é bom saber que os dicionários registram também a forma “cavaleira”.


_ À MEDIDA QUE / NA MEDIDA EM QUE

- À MEDIDA QUE: significando “à proporção que”.

Exemplo: Senhas eram distribuídas aos candidatos à medida que eles entravam nas filas de inscrição.

- NA MEDIDA EM QUE: equivalente a “no momento, no instante em que”.

Exemplo: Terás muito mais força e resistência na medida em que deixares de fumar e beber tanto.


_ ANARQUIA/AUTARQUIA/OLIGARQUIA

- Anarquia: Ausência de governo;
- Autarquia: Auto (= si mesmo) + arquia (= governo);
- Oligarquia: governo de poucos.


_ ANEXO / EM ANEXO

Com as formas “anexo”, “anexa”, “anexos” etc., temos aí mais um particípio que freqüentemente se usa como adjetivo. Como tal, deve ajustar-se ao substantivo que modifica: “O/s comprovante/s segue/m anexo/s”; “A/s fotocópia/s segue/m anexa/s”. É importante observar que, nos exemplos dados, a alteração na ordem não afetaria os mecanismos de concordância: “Seguem anexos os comprovantes”; “Seguem anexas as fotocópias”. Em textos da correspondência comercial, são mais do que comuns frases (duplamente erradas) como “Segue anexo os comprovantes” ou “Segue anexo as faturas”. Há um erro de concordância verbal (o verbo está no singular, mas deveria ficar no plural) e um de concordância nominal (o adjetivo “anexo” deve concordar em gênero e número com o substantivo que modifica).

Por fim, convém dizer que alguns autores rejeitam a expressão “em anexo”, de uso mais do que vivo (e compreensível) na língua. Numa frase como “As fotocópias seguem em anexo”, por exemplo, “anexo” funciona como substantivo e forma com a preposição “em” uma expressão adverbial. O professor Evanildo Bechara é um dos gramáticos que registram o uso regular de “em anexo”. Em sua “Moderna Gramática Portuguesa”, o autor dá estes exemplos: “Vai em anexo a declaração”; “Vão em anexo as declarações”. Publicado em 2001, o “Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea”, da Academia das Ciências de Lisboa, registra a locução adverbial “em anexo”, que dá como equivalente a “em apenso”, “em forma de aditamento”. O exemplo é este: “A errata vai em anexo”.

Em resumo: o adjetivo “anexo” varia (”As notas seguem anexas”; “Os comprovantes seguem anexos”); a expressão “em anexo” não varia (”As notas seguem em anexo”; “Os comprovantes seguem em anexo”).


_ A NÍVEL DE ou EM NÍVEL DE?

Em verdade, a forma “a nível de” está incorreta. Deste modo, devemos usar a expressão “em nível de”, mesmo assim somente quando houver “níveis”.

Exemplos:

Este problema só poderá ser resolvido em nível de diretoria (assessoria, secretaria…).

As decisões tomadas em nível federal (estadual, municipal) poderão ser definitivas.

Observação: Quanto ao mar, é aceitável dizer “ao nível do mar” ou “no nível do mar”.


_ ANTÁRTICA ou ANTÁRTIDA?

Veja o que dizem alguns dicionários sobre o adjetivo Antártico:

1. “Oposto ao pólo ártico, o pólo meridional do mundo” (Caldas Aulete);
2. “Oposto ao pólo ártico, do pólo sul” (Aurélio);
3. “Do pólo sul, oposto ao pólo ártico, relativo à Antártida” (Luft).

Assim sendo, a região é antártica, temos o Oceano Glacial Antártico e o Círculo Polar Antártico. Tradicionalmente, o nome do continente é “Antártida”, porém pelo seu emprego constante, tanto na linguagem falada quanto na escrita, a forma “Antártica” já vem sendo aceita sem restrições.


_ AONDE / ONDE / DE ONDE

- AONDE: com verbos que indicam movimento, um destino, como o verbo ir.

Exemplos:

Aonde você vai?
Aonde você quer chegar?

- ONDE: com verbos que indicam permanência, como o verbo estar.

Exemplos:

Onde você está?
A casa onde moro é muito antiga.

- DE ONDE ou DONDE: com verbos que indicam procedência.

Exemplos:

De onde você saiu?
Donde você surgiu?


_ ESTOU A PAR ou AO PAR DO ASSUNTO?

Apesar de alguns registros de “a par de” e “ao par de” como equivalentes a “ao corrente de”, a expressão mais recomendada e abonada é “a par de”. O dicionário “Aurélio” diz que “ao par de” é “forma menos preferível”; o “Dicionário Prático de Regência Nominal”, de Celso Luft, dá as duas expressões como equivalentes. O “Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea”, da Academia das Ciências de Lisboa, e o de Caldas Aulete, entre outros, só abonam a expressão “estar a par do assunto”.


_ AO PERSISTIREM… / A PERSISTIREM…

Analisemos duas construções que se ouvem e lêem, atualmente, em peças publicitárias de medicamentos: “Ao persistirem os sintomas, o médico…”/”A persistirem os sintomas, o médico…”. Qual é a melhor? Ou tanto faz? Raciocinemos juntos. Quando se diz “Ao sair, apague a luz”, quer-se dizer algo equivalente a “Quando sair, apague a luz”. A idéia predominante em orações introduzidas por “ao” é a de tempo: “Ao chegar, telefone” (”Quando chegar, telefone”); “Ao ouvir o sinal, não cruze a linha férrea” (”Quando ouvir o sinal, não cruze a linha férrea”). Então a frase “Ao persistirem os sintomas, o médico…” equivale a “Quando persistirem os sintomas, o médico…”. Essa construção não é incorreta, mas será que é exatamente isso o que se quer dizer, ou seja, será que a idéia predominante é a de tempo (”Quando persistirem os sintomas, o médico…”)? Ou é a de condição (”Se persistirem os sintomas, o médico…”; “Caso persistam os sintomas, o médico…”)? Se a intenção é dizer que o médico deverá ser consultado no caso de persistirem os sintomas, deve-se trocar o “ao” por “a”: “A persistirem os sintomas, o médico…”.

Não custa lembrar duas coisas. A primeira é que, se a opção for por “se”, a forma verbal é “persistirem”; se for por “caso”, é “persistam”.

A segunda é que nem sempre a troca de “a” por “se” deixa intacta a forma verbal. Nesses casos, a preposição “a” põe o verbo no infinitivo (”A manter a calma, resolverá tudo em pouco tempo”), enquanto a conjunção “se” o põe no subjuntivo (”Se mantiver a calma, resolverá tudo em pouco tempo”). E por que no caso de “persistir” a forma não muda (”A persistirem”/”Se persistirem”)? Porque o verbo é regular, o que significa que o futuro do subjuntivo tem formas semelhantes às do infinitivo. Veja outros exemplos: “A continuar assim, será excluído”/”Se continuar assim, será excluído”; “A aceitar nossas condições, será contratado”/”Se aceitar nossas condições, será contratado”. Veja agora o que ocorre com verbos irregulares: “A ser convocado, partirá imediatamente”/”Se for convocado, partirá imediatamente”; “A haver o perdão…”/”Se houver o perdão…”.

Por fim, resta dizer que as construções condicionais com o “a” são eruditas. Comuns em textos clássicos, ainda se encontram em obras jurídicas ou filosóficas, e também em ensaios literários. (P.C.N.)


_ A PRINCÍPIO / EM PRINCÍPIO

- A PRINCÍPIO: significa “inicialmente, no começo, num primeiro
momento”.

Exemplos: A princípio, havia dez operários trabalhando naquela obra.
A princípio, o casamento de Vera e Filipe ia bem.

- EM PRINCÍPIO: igual à “em tese, antes de qualquer consideração,
teoricamente”.

Exemplos: Em princípio, sou contra a presença de políticos nessa festa.
Em princípio, sou a favor do Parlamentarismo no Brasil.

Assim, quando se quer dizer que “num primeiro momento” se é contra alguma coisa, deve-se FALAR “a princípio”. Agora, seNDO-SE contra ALGUMA COISA só “em tese”, é preferível se dizer “em tese”, para maior clareza do enunciado: “Em tese, sou contra a pena de morte.”


_ DECISÃO ARBITRADA ou ARBITRÁRIA?

Segundo a maioria dos nossos dicionários, devemos fazer a seguinte distinção:

a) “Uma decisão arbitrada” é aquela que foi julgada por um árbitro. Arbitrar é decidir na qualidade de árbitro; sentenciar como árbitro. Árbitro é o juiz nomeado pelas partes para decidir as suas questões.

b) “Uma decisão arbitrária” é resultante de arbítrio pessoal, ou sem fundamento em lei ou em regras. Portanto, uma decisão arbitrada não é necessariamente arbitrária.


_ ARREBALDES ou ARRABALDES?

As duas palavras existem e constam do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras. O termo “arrabalde” significa cercania, subúrbio, e é mais usado.


_ AO REDOR DE / DE REDOR DE

Quando se está em volta de algo, pode-se usar não só estas duas expressões como também: “ao redor de”, “em redor de”, “em torno a”, “em torno de”. E existe ainda a expressão “em derredor de”.

Exemplo: “Os meninos quedos e taciturnos olhavam em derredor de si com tristeza”. O trecho é de “O Seminarista”, de Bernardo Guimarães, citado no dicionário Aurélio. “Quedo” é sinônimo de “quieto”; “taciturno” significa “silencioso, calado, sem palavras”.


_ ATERRISSAR / ATERRIZAR / ATERRAR

O velho dicionário Caldas Aulete só registra a forma “aterrissar”. No entanto, a forma “aterrizar” já está devidamente registrada no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa , publicado pela Academia Brasileira de Letras, e por vários dicionários, entre eles o “Michaelis” e o “Aurélio” .

Além das formas “aterrissar” e “aterrizar”, existe também o termo “aterrar”, com o mesmo significado. Pode-se dizer, então, que o avião “aterrissou”, “aterrizou” ou “aterrou”.

Não foi por acaso que, em seu inesquecível “Samba do Avião” (maravilha o compositor Tom Jobim empregou “aterrar” (”E vamos nós aterrar”).

Também são três os substantivos: “aterrissagem”, “aterragem” e “aterrizagem” (este registrado no “Aurélio” e no dicionário da Academia de Lisboa; o “Houaiss” e o vocabulário da nossa Academia não o registram).


Nota: aterrizar (ou aterrissar, ou ainda aterrar) significa pousar na terra; pousar no mar é “amerissar”; e na lua, “alunissar”.


_ ARTIGO DEFINIDO

Numa frase em que haja uma relação de itens, ou se precede todos com o artigo definido ou nenhum deles.

Exemplos:

Os líderes do PT, PSDB, PDT E PMDB estão se reunindo hoje. (errado)

Os líderes do PT, do PSDB, do PDT e do PMDB estão … (correto)

Os líderes de PT, PSDB, PDT e PMDB estão… (correto)


_ AS PARTÍCULAS “ATÉ” E “NEM”

“Até” é uma partícula que traz a idéia de inclusão.

Exemplo: Até o diretor estava presente no show dos alunos.

“Nem” deve ser usado quando houver idéia de exclusão.

Exemplo: “Nem mesmo os jornalistas credenciados puderam entrar no camarim da Madona.”


_ À TOA / À-TOA

O Dicionário “Aurélio”, o “Michaelis Melhoramentos”, o de Antenor Nascentes e o de Caldas Aulete, entre outros, informam que a palavra “toa” vem do inglês “tow”. Todos dão como primeiro sentido de “toa” o de cabo ou corda com que se reboca uma embarcação, e incluem a expressão “à toa” no verbete “toa”.

Quando tem valor adverbial, a expressão “à toa” se grafa sem hífen, ou seja, em duas palavras. Esse valor se verifica quando a expressão significa “a esmo”, “sem razão”, “irrefletidamente”: “Gosto de andar à toa”; “À tarde, ele passa horas à toa”; “Briga à toa, com quem quer que seja”.

Quando significa “desprezível”, “sem importância”, “irrefletido”, ou seja, quando tem valor de adjetivo, a palavra “à-toa” é composta, grafada com hífen: “Foi um gesto à-toa”; “É um homem à-toa”, “Cantou uma música à-toa”.

Convém salientar que, nesse caso, a expressão “à-toa” não varia, isto é, tem plural e singular iguais: “Um homenzinho à-toa”; “Vários homenzinhos à-toa”.


_ EMPREGO DA LOCUÇÃO PREPOSITIVA “ATRAVÉS DE”

Silva diz que nas “normas escritas” em seu trabalho se empregava “através de” com o sentido de “por intermédio de” ou “por meio de”, mas recentemente esse uso foi abolido.

Até 1998 os dicionários brasileiros só davam à expressão “através de” com o sentido de “pelo meio de”, “por dentro de”, “de um lado para o outro”, etc.

Exemplos: “Ele escapou através da janela do banheiro.”
“Os pássaros voavam através dos galhos das árvores.”

Apesar do largo uso (oral e escrito) de “através de” com o sentido de “por intermédio de” ou “por meio de”, nossos dicionários insistiam em não registrar esse valor da expressão. Salvo engano, é da última edição do “Aurélio” (”Novo Aurélio Século XXI”, publicada em 1999) o primeiro registro de “através de” com o sentido de “por intermédio de”. O “Houaiss” (lançado em 2001) registra a expressão com o sentido (classificado de “figurado”) de “por meio de”, “mediante”, com estes exemplos:

“Educar através de exemplos.”
“Conseguiu o emprego através de artifícios.”

O “Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea”, lançado em 2001 pela Academia das Ciências de Lisboa, não faz cerimônia e dá à locução “através de” o sentido de “por meio de”, com estes exemplos:

“Conseguiu o seu intento através de um estratagema.”
“Soube a notícia através dela.”

O recém-lançado “Dicionário de Usos do Português do Brasil”, do professor Francisco S. Borba, também registra exemplos do emprego de “através de” com o sentido de “por meio de”.

Exemplo: “O encantamento se faz através da magia e do mistério”, de “O Lobisomem e Outros Contos”, de H. Sales.

O que não ganha legitimidade ou registro é esta extravagância, comum em textos do jornalismo esportivo: “O gol do Fluminense foi marcado através de Romário”. Alguém teria coragem de dizer que o gol do Fluminense foi marcado por intermédio (ou “por meio”) de Romário? Se alguém pensou em dizer que sim, é bom desistir. O gol não foi marcado “por intermédio” ou “por meio” de quem quer que seja, por uma razão muito simples: o gol foi marcado por (simplesmente “por”) Romário. O que temos aí é uma expressão (”por Romário”) que indica o agente do processo expresso pela expressão verbal passiva “foi marcado”. Alguém diz que a mercadoria foi roubada “através de um homem alto, magro, calvo”? Certamente, não. Se dizemos que a mercadoria foi roubada “por um homem alto, magro, calvo”, nada de dizer “gol marcado através/por meio/por intermédio de Romário”. No uso culto, não há registro de “através de” para introduzir o agente de formas verbais passivas. (P.C.N.)


_ AUMENTOS “ENTRE …% A…%” ou “DE …% A …%”?

Quando se deseja dizer, por exemplo, que as vendas de um produto tiveram um aumento de 15%, ou 16%, ou 17%, ou qualquer fração entre 15% e 17%, deve-se preferir a expressão “as vendas aumentaram de 15% a 17%.

Utilizando-se a expressão “entre 15% a 17%”, parecerá que o aumento foi de 16% ou qualquer fração entre 15% e 17% (dando sempre a impressão de ser mais que 15% e menos que 17%).



B

_ BASTANTE / BASTANTES

“Bastante”, literalmente, Significa “que basta”. Assim “dinheiro bastante” nada mais é do que “dinheiro que basta”. Essa palavra é formada com a terminação “-nte” (de origem latina), presente em um sem-número de palavras da nossa língua: “pedinte”, “dormente”, “cintilante”, “extenuante”, “cortante”, “crente”, “ouvinte”, “sobrevivente”, “fluente”, “entorpecente”, “servente”, “amante”, “distante”, “poente”, “flagrante”, “oponente”, “existente”, “falante”, “tangente”, “dependente”, “delinqüente” etc. Que é um “delinqüente” senão aquele que delinqüe (do verbo “delinqüir”), ou seja, age de forma criminosa? Essa forma “-nte” vem da terminação latina do particípio presente, de que resultaram, em nossa língua, inúmeros substantivos e adjetivos que encerram a idéia de “aquele que executa determinado processo” (”pedinte” significa “que pede”, “caminhante” equivale a “que caminha”, “distante” corresponde a “que dista” e assim por diante).

Em relação à concordância, age-se com a palavra “bastante” como se age com qualquer adjetivo, ou seja, faz-se sua flexão de acordo com o substantivo modificado: “Não há público bastante para que o espetáculo comece”; “Não há deputados bastantes para que a sessão se inicie”. Na prática, porém, é pouco comum entre nós o emprego da forma “bastantes”. É raro ouvir-se, por exemplo, um jogador de futebol ou alguém do jornalismo esportivo dizer que o time perdeu “bastantes oportunidades”. O que se ouve mesmo é “bastante oportunidades”, o que talvez se explique pelo fato de que ao falante parece desnecessária a flexão de “bastante”, uma vez que sua carga semântica (de significado) é de algo copioso, abundante, isto é, de plural. Não custa repetir: quando modifica substantivo, “bastante” tem flexão de número (”Não há livros bastantes nesta biblioteca”). Convém lembrar que “bastantes” pode equivaler a “muitos/muitas” ou “suficientes”.

Quando modifica adjetivo, advérbio ou verbo, ou seja, quando funciona como advérbio (de intensidade), “bastante” não varia, como não variam os demais advérbios que exercem esse papel: “As atletas estavam muito/bastante nervosas”; “Eles ficaram muito/bastante contrariados”; “Elas escrevem muito/bastante bem”, “Os torcedores sofreram muito/bastante com a derrota da equipe”. (P.C.N.)


_ BÊBADO / BÊBEDO

As duas formas desta palavra estão corretas. Assim, tanto faz escrever: “Ele saiu bêbado da festa”, como
“ele saiu bêbedo da festa”.


_ BENVINDO ou BEM-VINDO?

A forma correta é “bem-vindo”. Não existem as formas “benvindo” e “ben-vindo”, porque o advérbio “bem” é com “m”, e por serem duas palavras autônomas, formando uma palavra composta, são escritas separadamente e ligadas por hífen.


_ BENEFICENTE ou BENEFICIENTE?

O termo correto é “beneficente”, e não “beneficiente”. Assim também, deve-se dizer “beneficência”, ao invés de “beneficiência”.

Exemplo: No domingo, aquele clube vai promover um almoço beneficente para ajudar as crianças carentes.


_ BEM-QUISTO ou BENQUISTO?

A forma correta é “benquisto” que significa bem-visto.

Exemplo: Aquele policial é muito benquisto pela vizinhança.


_ BIMENSAL / BIMESTRAL / BIENAL

- BIMENSAL: o que acontece ou aparece duas vezes no mês;

- BIMESTRAL: quando o intervalo é de dois meses;

- BIENAL: intervalo de dois anos.


_ BUJÃO / BOTIJÃO DE GÁS

As duas palavras existem e constam do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da ABL.



C

_ CABEÇADA / CABECEADA

- CABEÇADA (substantivo).

Exemplos:

Zico deu uma cabeçada muito forte na bola.
Sandra andava pela rua distraída e deu uma cabeçada no “orelhão”.

- CABECEADA (particípio do verbo CABECEAR).

Exemplo: A bola foi cabeceada para o fundo das redes.


_ CABELEIREIRO ou CABELEREIRO?

O termo correto é “cabeleireiro”, derivado de “cabeleira”.


_ CALEFAÇÃO / CALAFETAÇÃO

- Calefação: aquecimento;

- Calafetação: ação de calafetar, tapar, vedar.


_ CAMINHONEIRO ou CAMIONEIRO?

Diz-se corretamente “caminhoneiro”. Do mesmo modo deve-se falar também “caminhonete”.


_ CARANGUEJO ou CARANGUEIJO?

A forma correta é “caranguejo”.


_ CASAS GERMINADAS ou GEMINADAS?

Casas duplicadas, feitas aos pares, devem ser chamadas de “casas geminadas”. “Geminadas” e “geminar” são palavras da mesma família. E “geminado” é sinônimo de “gêmino”: casas gêminas ou geminadas.


_ CATACLISMA ou CATACLISMO?

A forma correta é “cataclismo”, que significa “Grande inundação, dilúvio”. Figurativamente, pode significar “convulsão social, revolta”. E ainda “grande desastre, derrocada”. Na prática, a palavra é quase sempre empregada com este último sentido.


_ CESÁREO / CESARIANO (em relação a parto)

Devemos dizer que o parto é “cesáreo” ou “cesariano” e a cirurgia é “cesárea” ou “cesariana”.

Exemplos:

Aquele médico só faz uma cesárea (ou cesariana) por dia.
Podendo-se, deve-se preferir o parto natural ao cesáreo (ou cesariano).

Observação: Ainda em relação a parto, lembramos que existe aquele feito a “fórceps”, ou com a forma variante “fórcipe” (=instrumento cirúrgico).


_ CHINELAS / CHINELOS

As duas formas estão corretas.


_ CHOPARIA ou CHOPERIA?

As duas formas podem ser consideradas corretas, pois para a ABL é “choparia”; para o “Aurélio” , “choperia”.


_ CÍRCULO ou CICLO VICIOSO?

A expressão correta é “círculo vicioso”.


_ COMERCIALIZAR / VENDER

- Comercializar: comprar, vender, alugar, emprestar…;

Exemplo: Esta empresa comercializa automóveis e caminhões em todo o
país.

- Vender: é uma das atividades da comercialização de um produto.

Exemplo: O Vectra está sendo vendido por um preço bem em conta.


_ COMPANHIA

A forma correta desta palavra é “companhia”, e não “compania”, significando tanto “empresa”, “firma”, quanto “presença de uma pessoa”, “convívio com alguém”.


_ COMPLEMENTAÇÃO / SUPLEMENTAÇÃO

- Complementação: segunda parte, o que completa.

Exemplo: A etapa complementar daquele jogo foi melhor que o primeiro
tempo.

- Suplementação: extra, adicional.

Exemplo: Para dar o aumento salarial, foi necessária uma verba
suplementar .


_ COMUNICAR / INFORMAR

A regência padrão do verbo comunicar é: “Alguém comunica algo a alguém” ou “Algo é comunicado a alguém”.

Exemplos:

O Governador comunicou os fatos ao Presidente da República (voz ativa)

Os fatos foram comunicados ao Presidente da República pelo Governador (voz passiva)

Como se vê, na língua padrão o que se comunica é a coisa, o fato, e não a pessoa. São cada vez mais comuns, no entanto, construções como “Alguém comunica alguém de algo” (”O secretário comunicou o governador da rebelião”), na voz ativa, e “Alguém é comunicado de algo por alguém” (”O governador foi comunicado da rebelião pelo secretário”). Essas construções ainda não são registradas nos dicionários de regência ou de sinônimos.

Esse uso (freqüente) de “comunicar” certamente se explica pela influência da regência de sinônimos, entre os quais se destaca “informar”, que na língua padrão ocorre com as construções “Alguém informa alguém de algo” (”O secretário informou o prefeito dos fatos”) e “Alguém informa algo a alguém” (”O secretário informou os fatos ao prefeito”).


_ COM RESERVAS / RESERVADAMENTE

- Com reservas: com cuidado, com restrições.

Exemplo: Tratou do assunto com reservas. (= Não abriu o jogo, não
disse tudo que sabia)

- Reservadamente: sigilosamente, confidencialmente.

Exemplo: Tratou do assunto reservadamente. (= a sós,
confidencialmente)


_ CONFERÊNCIA (Palestra)

Pessoas não “dão” uma conferência nem uma palestra, e sim as “fazem” ou as “proferem”.

Exemplo: Dr.ª Luzia fez (proferiu) uma conferência (palestra) sobre direito do trabalho ontem.

Observação: No entanto, pessoas “dão recitais”.


_ CONFISCAR / DESAPROPRIAR

- Confiscar: apreender algo, privar alguém de um bem sem indenização.

Exemplo: A Justiça Federal confiscou os bens daquele juiz corrupto.

- Desapropriar: privar alguém de alguma coisa, mas com indenização.

Exemplo: Para a construção do metrô, vários imóveis foram
desapropriados.


_ CONSIDERAR

O correto é dizer que “fulano foi considerado o melhor”, e não “como o melhor”.

Exemplo: Guga foi considerado o melhor tenista do mundo.


_ CONTAR COM…

Esta expressão significa “ter a favor”; portanto, não se deve dizer que “uma idéia conta com as objeções de outra pessoa”, mas sim que “sofre as objeções de alguém”.

Exemplo: A proposta de realização de uma Olimpíada no Rio conta com o apoio de todos os hoteleiros e sofre as objeções de quem teme atentados terroristas.


_ CONTACTO / CONTATO

As duas formas estão presentes no “Novo Aurélio” e no “Vocabulário Ortográfico”. Estranhamente, o “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa” não registra “contacto”, embora o “Dicionário Houaiss de Sinônimos e Antônimos” registre “contacto” e “contato” como equivalentes.

Assim também com: “contactar / contatar”, “corrupção / corrução”, “aspecto / aspeto”, “estupefacto / estupefato”.

Já a forma “aficcionado” não existe. O certo é “aficionado”, com a pronúncia igual a “acionado”.

Exemplo: Ele é um aficionado em cinema.

(Ver também “detector/detetor”; “veredicto / veredito”.)


_ CONTESTAR

Deve-se empregar este verbo em relação a acusações, argumentos, alegações. Para SE FAZER OPOSIÇÃO A pessoas, é mais indicado usar o verbo “enfrentar”.

Exemplos:

Os alunos contestaram os argumentos apresentados pelos donos de escolas para o aumento nas mensalidades de seus cursos.

Aquele jogador de futebol enfrentou o juiz por tê-lo expulso de campo.


_ CONVALESCENÇA ou CONVALESCÊNCIA?

O termo correto é “convalescença”.


_ CORPO-A-CORPO / CORPO A CORPO

Ocorrendo a substantivação da expressão “corpo a corpo”, esta deve ser escrita com hífen.

Exemplo: Na reta final de uma eleição, é normal que os candidatos intensifiquem o corpo-a-corpo com os eleitores. (O composto “corpo-a-corpo” está nomeando o contato direto de um candidato com os seus possíveis eleitores)

Já a expressão “corpo a corpo” (sem hífen) não nomeia coisa alguma, ou seja, não tem valor de substantivo.

Exemplo: De acordo com as pesquisas dos diversos institutos, os candidatos à Presidência da República “X” e “Y”continuam na briga, corpo a corpo, por uma vaga no segundo turno. (Neste caso, “corpo a corpo” designa o modo como ocorre a disputa pela vaga)


_ EXAME DE CORPO DE DELITO ou CORPO DELITO?

A expressão correta é “corpo de delito”. Significa o fato material usado como prova de um crime.


_ CRONOGRAMA / ORGANOGRAMA

- CRONOGRAMA: representação gráfica da previsão da execução de um trabalho, na qual se indicam os prazos;

- ORGANOGRAMA: representação gráfica de uma organização, na qual se indicam as unidades constitutivas, suas inter-relações, suas funções, seus limites.