Gêneros textuais

CARTA ARGUMENTATIVA

Algumas universidades, como a UEL e a Unicamp, têm cobrado nos exames vestibulares uma modalidade de texto muito interessante: a carta argumentativa.

Ao contrário do que pensam muitos vestibulandos, não há segredo algum na elaboração da carta. Aliás, ela é, segundo alguns, bem mais simples que a dissertação tradicional, haja vista que é um tipo de texto bem próximo à realidade dos alunos, dos quais a maioria certamente já escreveu uma carta a alguém.

Vejamos, então, as principais características da carta cobrada pelos vestibulares:

a) Estrutura dissertativa: costuma-se enquadrar a carta na tipologia dissertativa, uma vez que, como a dissertação tradicional, apresenta a tríade introdução / desenvolvimento / conclusão. Logo, no primeiro parágrafo, você apresentará ao leitor o ponto de vista a ser defendido; nos dois ou três subseqüentes (considerando-se uma carta de 20 a 30 linhas), encadear-se-ão os argumentos que o sustentarão; e, no último, reforçar-se-á a tese (ponto de vista) e/ou apresentar-se-á uma ou mais propostas. Os modelos de introdução, desenvolvimento e conclusão são similares aos que você já aprendeu (e você continua tendo a liberdade de inovar e cultivar o seu próprio estilo!);

b) Argumentação: como a carta não deixa de ser uma espécie de dissertação argumentativa, você deverá selecionar com bastante cuidado e capricho os argumentos que sustentarão a sua tese. É importante convencer o leitor de algo.

Apesar das semelhanças com a dissertação, que você já conhece, é claro que há diferenças importantes entre esses dois tipos de redação. Vamos ver as mais importantes:

a) Cabeçalho: na primeira linha da carta, na margem do parágrafo, aparecem o nome da cidade e a data na qual se escreve. Exemplo: Londrina, 15 de março de 2003.

b) Vocativo inicial: na linha de baixo, também na margem do parágrafo, há o termo por meio do qual você se dirige ao leitor (geralmente marcado por vírgula). A escolha desse vocativo dependerá muito do leitor e da relação social com ele estabelecida. Exemplos: Prezado senhor Fulano, Excelentíssimo senhor presidente Luís Inácio Lula da Silva, Senhor presidente Luís Inácio Lula da Silva, Caro deputado Sicrano, etc.

c) Interlocutor definido: essa é, indubitavelmente, a principal diferença entre a dissertação tradicional e a carta. Quando alguém pedia a você que produzisse um texto dissertativo, geralmente não lhe indicava aquele que o leria. Você simplesmente tinha que escrever um texto. Para alguém. Na carta, isso muda: estabelece-se uma comunicação particular entre um eu definido e um você definido. Logo, você terá que ser bastante habilidoso para adaptar a linguagem e a argumentação à realidade desse leitor e ao grau de intimidade estabelecido entre vocês dois. Imagine, por exemplo, uma carta dirigida a um presidente de uma associação de moradores de um bairro carente de determinada cidade. Esse senhor, do qual você não é íntimo, não tem o Ensino Médio completo. Então, a sua linguagem, escritor, deverá ser mais simples do que a utilizada numa carta para um juiz, por exemplo (as palavras podem ser mais simples, mas a Gramática sempre deve ser respeitada...). Os argumentos e informações deverão ser compreensíveis ao leitor, próximos da realidade dele. Mas, da mesma maneira que a competência do interlocutor não pode ser superestimada, não pode, é claro, ser menosprezada. Você deve ter bom senso e equilíbrio para selecionar os argumentos e/ou informações que não sejam óbvios ou incompreensíveis àquele que lerá a carta.

d) Necessidade de dirigir-se ao leitor: na dissertação tradicional, recomenda-se que você evite dirigir-se diretamente ao leitor por meio de verbos no imperativo (“pense”, “veja”, “imagine”, etc.). Ao escrever uma carta, essa prescrição cai por terra. Você até passa a ter a necessidade de fazer o leitor “aparecer” nas linhas. Se a carta é para ele, é claro que ele deve ser evocado no decorrer do texto. Então, verbos no imperativo – que fazem o leitor perceber que é ele o interlocutor – e vocativos são bem-vindos. Observação: é falha comum entre os alunos-escritores “disfarçar” uma dissertação tradicional de carta argumentativa. Alguns escrevem o cabeçalho, o vocativo inicial, um texto que não evoca em momento algum o leitor e, ao final, a assinatura. Tome cuidado! Na carta, vale reforçar, o leitor “aparece”.

e) Expressão que introduz a assinatura: terminada a carta, é de praxe produzir, na linha de baixo (margem do parágrafo), uma expressão que precede a assinatura do autor. A mais comum é “Atenciosamente”, mas, dependendo da sua criatividade e das suas intenções para com o interlocutor, será possível gerar várias outras expressões, como “De um amigo”, “De um cidadão que votou no senhor”, De alguém que deseja ser atendido”, etc.

f) Assinatura: um texto pessoal, como é a carta, deve ser assinado pelo autor. Nos vestibulares, porém, costuma-se solicitar ao aluno que não escreva o próprio nome por extenso. Na Unicamp, por exemplo, ele deve escrever a inicial do nome e dos sobrenomes (J. A. P. para João Alves Pereira, por exemplo). Na UEL, somente a inicial do prenome deve aparecer (J. para o nome supracitado). Essa postura adotada pelas universidades é importante para que se garanta a imparcialidade dos corretores na avaliação das redações.

 

 

Exemplo de carta

Londrina, 10 de setembro de 2002

Prezado editor,

O senhor e eu podemos afirmar com segurança que a violência em Londrina atingiu proporções caóticas. Para chegar a tal conclusão, não é necessário recorrer a estatísticas. Basta sairmos às ruas (a pé ou de carro) num dia de "sorte" para constatarmos pessoalmente a gravidade da situação. Mas não acredito que esse quadro seja irremediável. Se as nossas autoridades seguirem alguns exemplos nacionais e internacionais, tenho a certeza de que poderemos ter mais tranqüilidade na terceira cidade mais importante do Sul do país.

Um bom modelo de ação a ser considerado é o adotado em Vigário Geral, no Rio de Janeiro, onde foi criado, no início de 1993, o Grupo cultural Afro Reggae. A iniciativa, cujos principais alvos são o tráfico de drogas e o subemprego, tem beneficiado cerca de 750 jovens. Além de Vigário Geral, são atendidas pelo grupo as comunidades de Cidade de Deus, Cantagalo e Parada de Lucas.

Mas combater somente o narcotráfico e o problema do desemprego não basta, como nos demonstra um paradigma do exterior. Foi muito divulgado pela mídia - inclusive pelo seu jornal, a Folha de Londrina - o projeto de Tolerância Zero, adotado pela prefeitura nova-iorquina há cerca de dez anos.

Por meio desse plano, foi descoberto que, além de reprimir os homicídios relacionados ao narcotráfico (intenção inicial), seria mister combater outros crimes, não tão graves, mas que também tinham relação direta com a incidência de assassinatos. A diminuição do número de casos de furtos de veículos, por exemplo, teve repercussão positiva na redução de homicídios.

Convenhamos, senhor editor: faltam vontade e ação políticas. Já não é tempo de as nossas autoridades se espelharem em bons modelos? As iniciativas mencionadas foram somente duas de várias outras, em nosso e em outros países, que poderiam sanar ou, pelo menos, mitigar o problema da violência em Londrina, que tem assustado a todos.

Espero que o senhor publique esta carta como forma de exteriorizar o protesto e as propostas deste leitor, que, como todos os londrinenses, deseja viver tranqüilamente em nossa cidade.

Atenciosamente,

M.

 

EDITORIAL

Os editoriais são textos de um jornal em que o conteúdo expressa a opinião da empresa, da direção ou da equipe de redação, sem a obrigação de ter alguma imparcialidade ou objetividade. Geralmente, grandes jornais reservam um espaço predeterminado para os editoriais em duas ou mais colunas logo nas primeiras páginas internas. Os boxes (quadros) dos editoriais são normalmente demarcados com uma borda ou tipografia diferente para marcar claramente que aquele texto é opinativo, e não informativo. Editoriais maiores e mais analíticos são chamados de artigos de fundo.

Na chamada "grande imprensa", os editoriais são apócrifos — isto é, nunca são assinados por ninguém em particular.

A opinião de um veículo, entretanto, não é expressada exclusivamente nos editoriais, mas também na forma como organiza os assuntos publicados, pela qualidade e quantidade que atribui a cada um (no processo de dição jornalística). Em casos em que as próprias matérias do jornal são imbuídas de uma carga opinativa forte, mas não chegam a ser separados como editoriais, diz-se que é Jornalismo de Opinião.

 

 

DISSERTAÇÃO

A dissertação é um texto de natureza teórica que visa expor minuciosamente um tema, desdobrando-o em todos os seus aspectos. Através desta estruturação lógica e ordenada das concepções iniciais, o autor propõe reflexões, incrementa uma forma de pensar, defende um ponto de vista, discorre sobre uma ideia, cria polêmicas, propõe debates, insere raciocínios dos quais extrai consequências, introduz questionamentos que abalam as certezas absolutas.

 

Sua principal qualidade é o corpo teórico que desperta profundas meditações. Dissertar passa pelo encadeamento de causas e efeitos; seu criador pode e deve oferecer exemplificações, buscar conclusões, mas não impor suas ideias, nem mesmo se esforçar para convencer, a qualquer custo, seus interlocutores. Acima de tudo ele precisa ter a consciência de que vai tão somente propagar um novo saber.

As obras dissertativas enquadram-se na categoria dos escritos expositivos, ao lado dos textos científicos, dos pareceres, das produções didáticas, dos verbetes que compõem as enciclopédias. Elas apresentam características essencialmente informativas. Normalmente os trabalhos desta natureza são elaborados no fim das pós-graduações ou dos mestrados.

O objetivo é testar e preparar osaluno s para investigações científicas mais profundas. Neste contexto os textos devem conter cerca de 100 páginas, nas quais eles vão desenvolver os conhecimentos adquiridos. Nos mestrados a dissertação é o trabalho de conclusão das pesquisas após a frequência dos cursos e créditos necessários, sob a supervisão de um orientador da academia. Ela é defendida perante uma banca composta por três ou mais doutores.

Nestas produções do mestrado o estudante deve expressar igualmente o quanto está ciente do método empregado em suas investigações acadêmicas e mencionar qual a metodologia usada em seu trabalho. É algo semelhante à produção de uma tese, a qual é desenvolvida durante o estágio do doutorado.

O texto dissertativo pode ser expositivo ou argumentativo. Em nenhuma das duas modalidades há lugar para a opinião. Na expositiva o estudante expõe um conceito, uma teoria e o seu ponto de vista sobre o assunto, além de expressar a visão alheia. Normalmente ele expande a concepção nuclear, revelando sua essência, os precedentes, razões imediatas ou distantes, efeitos ou exemplificações.

Na monografia argumentativa o criador deseja mais que tudo comprovar a exatidão ou a falsidade dos conceitos discutidos no texto; o autor quer persuadir o interlocutor, e por esta razão ele apela ao seu intelecto por meio de raciocínios, indícios claros e testemunhos.

As produções mais objetivas conferem um tom nada pessoal à obra, e são tecidas por argumentos racionais que vão da esfera geral à singular. As subjetivas são direcionadas não apenas à mente do outro, mas também as suas emoções; nelas estão presentes elementos como as atitudes sarcásticas e zombeteiras. Não podem faltar nos textos dissertativos a introdução, o desenvolvimento e a conclusão.

 

RESENHA

Toda resenha é uma descrição detalhada a respeito de determinado conjunto de fatos. A resenha crítica é a apresentação do conteúdo de uma obra. O resenhista é aquele que escreve resenha e que possui a capacidade de redigir um resumo a respeito da leitura, formulando um conceito de valor de determinada obra literária.

 

A resenha crítica apresenta determinado nível de julgamento sobre a obra literária e sobre uma peça teatral, um roteiro de cinema e TV, descrição de método científico, entre outras categorias de obras. O resenhista crítico deve escrever de maneira impessoal, sem demonstrar sarcasmo ou comicidade em sua opinião.

A resenha deve apresentar um posicionamento técnico a partir de uma análise sobre a obra, expondo o resumo do conteúdo e o nível de sua importância. Em suma, apresenta o conteúdo de uma obra com uma avaliação técnica e crítica.

O objetivo da resenha crítica é informar o leitor a respeito do assunto de determinado livro, a contribuição do autor, sempre de maneira objetiva e educada, sem menosprezar de maneira vulgar o conteúdo analisado. Evidencia também o trabalho do autor sobre as abordagens, seu nível de conhecimento e o valor de sua teoria.

O resenhista crítico mostra as falhas presentes na obra, informações desencontradas e, quando merecido, dar elogios ponderados, sem “rasgar a seda”. Apesar de sua análise técnica e equilibrada, o resenhista não possui o direito e deturpar o conteúdo do livro e o pensamento do autor da obra.

Não pode dizer como deveria ter escrito, ressaltando suas próprias qualidades, pormenorizando o valor do autor da obra analisada. O resenhista precisa ter conhecimento completo da obra, competência na matéria ( se a obra aborda assuntos médicos, por exemplo, o resenhista precisa ter domínio sobre o assunto), capacidade de juízo de valor (utilizando visão técnica e impessoal), independência de juízo, correção, e respeitar o pensamento do autor.

Ninguém tem tempo para ler todos os livros indicados, para não perder tempo de trabalho intelectual, o melhor recurso é recorrer às resenhas das obras, que auxilia na decisão de ler ou não ler determinada obra. A resenha ajuda muito na elaboração de estudos científicos e elaboração de monografias.

Em sua estrutura a resenha deve conter a referência bibliográfica, credenciais do autor, conhecimento sobre ideia e tema do conteúdo, conclusão do autor, método e embasamento usado pelo autor, e a apreciação a respeito do julgamento da obra.

 

Fonte: Infoescola